MESAS-REDONDAS
MESA 1 - “Histórias dos descendentes italianos de Itu”
Título da apresentação: Um pouco das memórias (re)contadas
Autores: Maria de Fátima Boni Oliveira, Vilma Pavão Folino, Edson Carlos de Oliveira
RESUMO
A imigração italiana é um capítulo importante na história de Itu. Com o intuito de reacender e preservar as memórias das famílias de imigrantes italianos em nosso município, quase 70 famílias, de 120 convidadas, aderiram ao projeto de produzir relatos familiares para a antologia intitulada “Italianos em Itu, da Imigração à Atualidade”, revelando-se nestas histórias como autores e produto. Nossos ancestrais não se renderam à miséria que assolava sua terra natal, nem ao desafio do desconhecido, nem à insalubre e interminável travessia do Atlântico nos porões de navios, nem ao conflito: medo X esperança X saudade, nem às inesperadas e pouco acolhedorascondições da chegada e muito menos ao árduo e exaustivo trabalho. De início trabalharam na lavoura de algodão e, sobretudo de café, principalmente no Jacuhu, Pinheirinho e Varejão como empregados, meeiros e depois proprietários. Depois de algum tempo se transferiram para a cidade, formando inicialmente um núcleo no Rancho Grande. Muitos foram operários da Reprensagem de Algodão, das Tecelagens São Luiz, São Pedro, Fabril Redenção, Maria Cândida, Perseverança e ITIL ouexerceram a profissão de alfaiate, jornaleiro, ferreiro, seleiro, charreteiro, carpinteiro, carroceiro, padeiro, músico, barbeiro, comerciante, industrial têxtil ou na área de cerâmica, bebidas, vassouras e outras. As mulheres nos antigos recenseamentos constavam apenas como domésticas, mas sabemos que além de cuidar da casa e da numerosa família, iam à roça nas colheitas e eram costureiras e parteiras tanto no campo como na cidade, além de operárias fabris. Nossos pioneiros conseguiram dar uma nova visão e dimensão ao trabalho, tanto no campo como na cidade, influenciando também a arquitetura e os hábitos. A herança da vivência pautada na coragem, na fé, na valoração da família e do trabalho, gerou relatos valiosos representados neste Seminário por descendentes de Abruzzo e Trento.
MESA 2 - “Italianidade no interior paulista”
Título da apresentação: Italianidade no interior paulista
Autor: Prof. Dr. Oswaldo Truzzi
Debatedoras: Prof.a Dra. Fernanda Ortale e Giliola Maggio (FFLCH/USP)
RESUMO
Busca-se analisar e discutir o tema da identidade étnica italiana entre os anos de 1880 e 1930, no contexto específico do interior paulista, destino para o qual rumou a maior parte dos imigrantes desta origem no Brasil no período enfocado. Parte-se do pressuposto teórico que a identidade étnica (no caso italianidade) é essencialmente construída como uma fronteira social que distingue “nós” dos “outros”. As variações historicamente observadas na identidade étnica do grupo podem então ser explicadas pela interseção entre o background cultural (identidades na terra de origem, migração familiar e baixa qualificação) dos imigrantes chegados a São Paulo e os condicionantes de sua inserção na nova terra, sobretudo tendo em vista as especificidades do mercado de trabalho e as oportunidades de mobilidade social e econômica disponíveis, tanto no meio urbano quanto no meio rural. Entre os elementos de italianidade a serem explorados, podemos arrolar: as identidades regionais mais marcantes que uma identidade nacional italiana, a necessidade de afirmação racial como brancos, contrastiva em relação aos negros; os padrões matrimoniais articulados às estratégias de acesso à propriedade rural, as possibilidades de mobilidade oferecidas ao grupo e consequente surgimento de estratos de classe média, o associacionismo étnico e o prevalecimento de uma ética de trabalho essencialmente perseguida por unidades familiares individuais.
MESA 3 - “Tecendo histórias com o Ensino do Italiano como Herança”
Título da apresentação: O Italiano em Pedrinhas Paulista: a produção de material didático para o ensino de língua de herança.
Autoras: Rosângela Maria Laurindo Fornasier(FFLCH/USP/DOUTORANDA)e Tatiana Iegoroff de Mattos (FFLCH/USP/MESTRANDA)
Debatedoras: Prof.a Dra. Fernanda Ortale e Giliola Maggio (FFLCH/USP)
RESUMO
Iniciado no segundo semestre de 2016, na cidade de Pedrinhas Paulista, uma ex-colônia italiana localizada no interior paulista, o curso de Italiano como Herança conta com um material didático elaborado de forma a torná-lo sensível ao contexto em que é utilizado. Para isso, foram realizadas algumas entrevistas com membros da comunidade, principalmente seus fundadores que ainda encontram-se vivos, graças ao fato da imigração ter sido recente, ocorrida na década de 50. Também foram utilizados documentos, fotografias e cartas dessas famílias, além de músicas por eles apreciadas e diversos materiais encontrados na internet, que serviam para complementar e aprofundar as temáticas desenvolvidas em sala. Esse material foi elaborado pela professora do curso e suas colaboradoras, ambas membros da comunidade, e também contou com o apoio de pesquisadores da Universidade de São Paulo. Para exemplificar melhor como funciona esse material, serão apresentadas algumas atividades da unidade sobre os dialetos. Também serão apresentadas algumas reflexões e sugestões acerca desse material, já utilizado em sala de aula. Com isso, espera-se que o público possa entrar em contato com pelo menos uma parte do projeto que vem sendo realizado na comunidade de Pedrinhas Paulista, cujo objetivo é valorizar as origens e, principalmente, a língua dos imigrantes, a fim de que este patrimônio cultural não se perca.
MESA 4 - “Culinária de Herança: reconstruindo receitas”
Título da apresentação: A cozinha dos primeiros imigrantes italianos
Autora: Rose Ferrari (Salto/jornalista)
RESUMO
A explanação a ser apresentada como parte da Mesa-redonda: “Culinária de Herança: reconstruindo receitas” baseia-se nas pesquisas da psicóloga, mestre e doutoranda em Psicologia Social Tânia Biazioli, da Universidade de São Paulo – USP, entre eles o artigo “A colheita da cozinha italiana entre os cafezais do interior paulista, 1880-1930”, apresentado em 2014 no Congresso Internacional de Gastronomia Mesa Tendências. Trata-se de um relato sobre sua experiência na elaboração de um cardápio autoral para o restaurante paulistano Attimo, ao lado do chef de cozinha Jefferson Rueda. A proposta era apresentar a cozinha paulista que recebeu a influência dos imigrantes italianos na era do café.Traz também o depoimento de Idalina Ferrari Furlan, de 88 anos e residente em Salto/SP. Ela é a única neta ainda viva do casal de imigrantes Casemiro e Albina Ferrari, que chegou ao Brasil em 1887. Em seu relato, Idalina conta sobre a alimentação de sua família na década de 1930, quando moraram num sítio de sua propriedade, no Bairro Seco, em Salto.A conclusão a que se chega é que a cozinha dos imigrantes italianos era toda camponesa e muito distante das receitas difundidas pelo chef italiano Pellegrino Artusi e que mais tarde se tornaram a sofisticada culinária italiana.O colono italiano produzia o café para o fazendeiro e os meios de vida para si mesmo. Ele cultivava milho e feijão entre os pés de café, bem como criava porcos e galinhas. Assim pôde manter alguns de seus hábitos alimentares ao consumir a polenta, a linguiça e outros embutidos. Mas teve que incorporar o arroz com feijão em suas refeições diárias.Outro elemento que identifica o italiano é o vinho. No Brasil, os imigrantes italianos tinham muito orgulho de sua bebida típica, mas o vinho de uva era uma regalia para poucos.
Título: Parmigiana ou parmegiana? As receitas entre a tradição e a reconstrução
Autora: Silvana Azevedo de Almeida (FFLCH/USP/DOUTORANDA)
RESUMO
Quando os italianos chegaram ao Brasil, a partir século 19 no Porto de Santos, traziam com eles uma bagagem cultural maior do que o sonho de “Fazer a América”. Em contato com um país tão diverso, quando comparado ao seu local de origem, os imigrantes viram na culinária uma forma de preservação da própria identidade e transformaram irreversivelmente os hábitos alimentares do povo brasileiro. Não demorou muito para o macarrão da mamma, a pizza e tantos entre outros pratos, ainda que adaptados aos costumes e produtos locais, serem incorporados ao cardápio do brasileiro.Podemos citar o parmegiana ou allaparmigiana – receitas que levaremos para essa mesa-redonda, em termos de discussão teórica. Há autores que interpretam a cozinha italiana como um conjunto de cozinhas regionais que, muitas vezes, remetem à tradição das cidades. Tomando o exemplo já mencionado, allaparmigiana deveria remeter à Parma, na EmiliaRomagna. No entanto, no Brasil, para muitos essa palavra leva para o imaginário de um filé empanado, frito e gratinado, servido fumegante com molho de tomate e queijo derretido, que se desprende em fios a cada garfada. Vale lembrar que, apenas ao ser inserido em outra cultura, um produto local adquire uma identidade geográfica. No entanto, em outro país, esse mesmo produto pode passar por um processo natural de adaptação, que pode dar origem a um novo produto. Neste contexto, a terminologia pode também adaptar-se ao novo produto que, por sua vez, é resultado de uma fusão de culturas. Este trabalho pretende levar à reflexão de uma discussão bastante em voga sobre os limites entre a tradição e a adaptação das receitas típicas italianas, assim como identificar o papel dos imigrantes no processo de formação do cardápio e do gosto dos brasileiros.
Título da apresentação:
Autoras: Vilma Pavão Folino (autora do conto “Patrimônio que transcende tempo e espaço”) e Denise Lícia Boni de Oliveira.
RESUMO
Relatar a vivência familiar em relação à culinária doméstica de origem italiana, desde a bisavó aos dias atuais, no conto “Patrimônio que transcende tempo e espaço” foi uma atividade de criação e memória imensamente enriquecedora, repleta de emoção por vários motivos: primeiramente, por se tratar de uma experiência prazerosa de homenagem aos meus antepassados. Dessa forma, reconhecer que muitos dos saberes e práticas envolvidos em nossa cozinha quotidiana ou festiva fazem parte de uma herança cultural gerou, assim, a confirmação de pertencimento, aumentando minha consciência de italianidade. Ao recriar a família aflorou-me um sentimento de auto recriação; ao reconstruir aspectos positivos da família houve uma ampliação da autoestima; relembrar os aspectos da culinária familiar, ligados às datas especiais e religiosidade, descortina uma percepção de que alguns hábitos estão sendo perdidos, o que causou certa tristeza e sensação de vazio. Desse modo, pela compreensão de que algumas receitas são mantidas por serem adaptadas ao agito dos dias atuais e de que o novo estilo de vida torna alguns pratos raramente possíveis, constatei que tradições podem ser atualizadas sem perder a essência. Nesse sentido, fazer sentir-me
um elemento forte de ligação entre o passado e o presente e até mesmo ao futuro me antevendo como um antepassado que deixou marcas importantes, inclusive no legado da culinária familiar, deixou a sensação de “dever cumprido” e de família “viva”.